O dia em que a ‘Estrela Solitária’ visitou o João Marcatto

Com a bola rolando, o Botafogo mostrou muita movimentação, aplicação e velocidade
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Em pé: Cássio, Valmor, Zé Carlos, Toto, Ado, Marcio e Isaac. Agachados: Ilton, Anderson, Marinho e Altivo © Luiz Chaves

Por Henrique Porto

Duas equipes do Rio de Janeiro excursionaram por Santa Catarina em 1991, o Flamengo e o Botafogo. Bicampeã estadual na época, a equipe de General Severiano contava em seu elenco com jogadores como Paulo Roberto, Vivinho, Ricardo Cruz, Carlos Alberto Dias, Valdeir e Renato Gaúcho, que negociava a renovação de seu contrato. Também tinha Pingo, que viria a ser um dos principais técnicos da história do Grêmio Esportivo Juventus.

Foi este cartaz que fez com que os dirigentes do ‘Time do Padre’ acertassem um amistoso entre as equipes. A peleja ocorreu na noite de 4 de junho, uma terça-feira, com a bola rolando a partir das 21h no Estádio João Marcatto. Como o alvinegro carioca havia jogado no domingo anterior contra o Blumenau (vitória por 3 a 2), aproveitou para dar uma esticada até as terras de Emílio Carlos Jourdan e faturar alguns trocados. Engordou seu caixa em CR$ 2,6 milhões.

A mobilização em torno do jogo foi grande, porém o público não compareceu. Segundo os jornais da época, 1.673 torcedores se dirigiram ao João Marcatto para prestigiar o prélio, gerando uma arrecadação de CR$ 2.219.000,00. Os ingressos custavam CR$ 3 mil para a arquibancada coberta e CR$ 1 mil para a geral, visto que naquela época ainda não havia a descoberta. A diretoria também colocou à venda um lote de camisas oficiais, com os preços variando entre CR$ 1,5 mil e CR$ 3 mil.

Somando-se a cota paga ao Botafogo e as despesas do encontro, como os custos da arbitragem e a hospedagem do adversário no Hotel Itajara, o prejuízo foi certo. “Programar jogos amistosos, mesmo com times grandes, quando o torcedor está com o bolso vazio, deu no que deu”, criticou o jornal O Correio do Povo. Talvez a história fosse outra com a presença de Renato Gaúcho, que sequer deu o ar da graça no antigo arrozal da Família Pradi. Mas o revés financeiro foi amenizado com a renovação de patrocínio até o final da temporada por parte Malwee Malhas.

Dentro de campo as coisas também não foram como o esperado para o Juventus. O tricolor até vinha embalado após dois bons amistosos contra o Joinville, onde somou um empate na Manchester Catarinense (1 a 1) e uma vitória atuando no João Marcatto (2 a 0). Mas o plantel do recém-chegado Nazareno Silva, que havia se apresentado ao clube exatamente uma semana antes, não correspondeu dentro das quatro linhas.

Nazareno levou o tricolor para campo com Zé Carlos; Márcio (depois Oliveira), Valmor, Cássio e Isaac; Ado (Denílson), Altivo e Toto; Ilton (Rosetti), Anderson (Marcinho) e Marinho. O Botafogo apostou em Ricardo Cruz; Paulo Roberto (Vanderlei), André, Jefferson (Maurício) e Renato Martins; Carlos Alberto Dias, Pingo e Juninho (Cosme); Vivinho, Bujica (Marcelo) e Pichetti (Gustavo).

Com a bola rolando, o alvinegro mostrou muita movimentação, aplicação e velocidade. Abriu o placar aos 20’ da primeira etapa, quando Pichetti puxou um rápido contra-ataque pela ponta esquerda, foi até a linha de fundo e cruzou na medida para Juninho bater de primeira. Aos 5’ da etapa complementar, Vivinho deslocou o lateral Cássio com um jogo de corpo e acertou um belo chute da entrada da área, no canto direito de Zé Carlos. Um golaço que deu números finais ao marcador.

Quanto ao Juventus, o ‘Time do Padre’ levou perigo ao gol de Ricardo Cruz nos minutos finais da primeira etapa, mas Anderson e Ilton falharam ao alvo. Inclusive Anderson foi bastante vaiado pelos torcedores e acabou dando lugar a Marcinho. De cabeça, Valmor colocou uma bola na trave alvinegra aos 32’ da etapa final, no lance mais perigoso do tricolor. Na avaliação da imprensa, o craque Toto foi o jogador mais lúcido do time durante os noventa minutos.

“O time de Emil Pinheiro jogou muito bem em Jaraguá do Sul e derrotou o Juventus (...). Com um futebol de muita aplicação tática e ótimo repertório de jogadas ofensivas, o Bota simplesmente ‘passeou’ em campo. A torcida do Juventus aceitou a derrota com resignada dignidade”, reportou o colunista Joel Ferreira do Nascimento, o popular Maceió, do jornal A Notícia.

E esta foi a história da primeira e única vez que o Botafogo Futebol e Regatas atuou em Jaraguá do Sul. Semana que vem estamos de volta, mas enquanto isso pedimos ao Padre Elemar que rogue por todos nós.

publicado 6 anos